Norma Guimarães, presidente do Simpi. Imagem: Gabriela Caldas/Blog do Gusmão.
A greve
dos professores da rede municipal de Itabuna, iniciada no dia 22 de
maio, expõe contradições no discurso do homem público Vane do Renascer. Os
educadores afirmam que o vereador Vane defendia os reajustes solicitados
pela classe. Agora, como prefeito, o discurso é outro, completamente
diferente. A classe
também reclama da falta de condições de trabalho, da violência nas
escolas e não se vê representada pela secretária de educação, Dinalva
Melo.
Leia a entrevista da Professora Norma Guimarães, presidente do Simpi (sindicato do magistério municipal público de Itabuna). BG. Durante
um protesto no Centro Administrativo Firmino Alves, antes do início da
greve, vários professores cantaram o samba da traição para o prefeito
Vane. A classe se sente traída por quais motivos?
Norma Guimarães. Ano
passado Vane e Wenceslau participaram da nossa caminhada dizendo que os
15% de reajuste que tivemos para os níveis II e III não era justo. Por
que agora que ele está no governo acha que é muito? Muitos professores
apoiaram a candidatura de Vane, e agora nos sentimos traídos justamente
porque ele fez muitas promessas e não está cumprindo. Desde o inicio do
ano estamos sofrendo com parcelamento em 16 vezes do mês de dezembro, o
corte dos adicionais do plano de carreira, entre outras coisas. O
governo Vane mente dizendo que nunca houve um reajuste linear. Houve no
primeiro ano do antigo governo. Tivemos 12% para os níveis I II e II.
Demos um voto de confiança acreditando na mudança, mas a mudança é para
ampliar direitos e não retira-los, como está sendo feito.
BG. Como a senhora analisa o início do governo Vane na educação?
Norma Guimarães. Está
havendo um descaso com a nossa categoria. Em janeiro nós trocamos
nossas férias por paradas na porta da prefeitura. Um terço de férias
que deveria ser pago em janeiro só foi pago em fevereiro. O retroativo
de dezembro o senhor Wenceslau disse que só pagaria em 16 parcelas, pois
a dívida não era do governo atual. Nós conseguimos bloquear pouco mais
de 1 milhão do governo anterior para pagar o mês de dezembro e Vane
queria pagar primeiro os consignados ao invés dos professores. Tivemos
que ir ao Ministério Público para conseguir esse pagamento. Desde
janeiro foi cortado o adicional noturno, gratificação de diretores e
vice-diretores, licença para mestrado e doutorado. Foram cortados também
o auxilio deslocamento do pessoal que trabalha no campo e o vale
intermunicipal dos professores que moram em outras cidades e trabalham
em Itabuna. É um desgaste muito grande para nós. A pauta de revisão
salarial foi entregue no dia 27 de março. Tivemos a primeira rodada de
negociações sem a presença do prefeito e vice- prefeito. Depois disso
eles não fizeram o acordo justo com os professores. Querem reajustar
apenas 7,97%. É um absurdo.
BG. Como está a relação entre o sindicato e a secretária Dinalva Melo?
Norma Guimarães. Na
penúltima caminhada os professores decidiram fazer uma faixa que dizia:
“Fora secretária de educação, você não nos representa”. Ela não nos
representa porque senta na cadeira da secretaria, não vê que existe um
plano de carreira e baixa portaria contra uma lei. Ela mostrou que não
está do lado dos professores. Só quer tirar os nossos direitos.
BG. O que vocês estão pleiteando com essa greve?
Norma Guimarães. Estamos
lutando pelos 15% de reajuste para os professores do nível II e III
dividido em três vezes, condições plenas de trabalho, materiais para
limpeza e para as aulas, merendeiras, porteiro, funcionários para
serviços gerais e segurança para os alunos e professores.
BG. Além
do reajuste salarial, vocês lutam para que não haja mudança para o
regime estatutário. Em que essa mudança prejudicaria a classe?
Norma Guimarães. É
mais uma retirada de direitos. Um dos benefícios que vamos perder é o
FGTS, pois o regime estatutário desobriga o governo a depositar os 8% no
Fundo de Garantia do servidor. Com o dinheiro do FGTS o professor pode
comprar sua casa própria. No caso de doença pode retirar o dinheiro, e
na época da aposentadoria poder usufruir do benefício. Além disso, com a
mudança as ações na justiça sairão da justiça do trabalho para a
justiça comum, que é mais lenta. Por isso, dizemos não ao estatutário
para continuar com o celetista. Ficamos sabendo que o governo Vane vai
enviar essa proposta de mudança à câmara, por isso já mandamos um oficio
para os vereadores avisando que não concordamos com isso. Nós contamos
com o apoio da câmara. Essa mudança só beneficia a máquina pública ao
invés de beneficiar os professores.
BG. Qual a real situação das escolas municipais hoje? Elas dão plenas condições aos alunos e professores?
Norma Guimarães. Os
professores estão sem condições para dar aula. O aluno não tem merenda.
Muitas vezes a aula precisa acabar mais cedo por falta de água. A
violência tem aumentado, a exemplo do aluno que ameaçou a professora com
uma arma, na semana passada. Não temos merendeira nem porteiro. Nas
creches as aulas começaram só em abril e muitas não têm professores.
Falta tudo, sobretudo, respeito e dignidade para com o professor. Entrevista: Gabriela Caldas. Edição: Emílio Gusmão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário